Abas primárias

Um ELefante incomoda muita gente...

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Recentemente, um jovem desenvolvedor, membro dessa comunidade, postou de maneira inocente, mas correta, uma dúvida na nossa lista de discussão, perguntando o que nós achávamos sobre o que deveria ser feito a respeito da correção de um bug, que já existe há sete anos no AOO, e já corrigido no LibreOffice. A questão toda deveria girar sobre como dar o crédito à pessoa que descobriu a solução (Michael Meeks), já que ela consistia na retirada de apenas uma linha de código do AOO. Mas não foi bem isso o que aconteceu....

 
Alguém da TDF, sem nome e sem rosto que, curiosamente, está muito interessada no que acontece em uma lista de discussão de uma comunidade pequena e obscura nos cafundós do Brasil, leu essa thread e concluiu que deveria tomar uma atitude enérgica (por favor, quem decidir lê-la, o faça por inteiro e não parcialmente).
 
Eu vou contar o milagre mas não me peçam pra contar o nome dos santos porque ainda não é hora. Além disso, prefiro ter um deles com aliado, do que como inimigo, apesar dele pensar o contrário. Tirem suas próprias conclusões...
 
Sexta-feira passada, dia 18/05/2011, à noite, três integrantes da lista de discussão dessa comunidade, incluindo eu, recebemos um e-mail de um notório expoente do Software Livre no Brasil e conhecido internacionalmente, dizendo que "alguém da TDF", sem nome e sem rosto, havia informado a ele que um de nossos integrantes colocou em lista pública "sua intenção de copiar código da TDF para corrigir bugs do Apache OpenOffice". Ele afirmou que "o único comentário sensato fazia menção apenas à licença, mas não à intenção de copiar código sem autorização do autor". Ele afirmou, também, que a tal pessoa da TDF, sem nome e sem rosto, tinha a intenção de levar isso como uma reclamação formal à Fundação Apache, mas que ele havia pedido que isso fosse passado para ele primeiro, para não fazer alarde. Obviamente, nenhum dos dois leu as mensagens da thread, nem entendeu do que se tratava o tal "código", nem no que consistia a dúvida do Kayo, nosso jovem e intrépido desenvolvedor. Por último, ele afirmou que não traria o assunto a público, porque poderia "afetar pessoas da comunidade", mas que se via "obrigado a informar a Fundação Apache sobre esse fato".
 
Aí, fiquei pensando... Quem seria a tal "pessoa da TDF" que, em geral, costuma se apresentar sem nome e sem rosto em assuntos polêmicos e, principalmente, cheios de mentiras, meias verdades e fatos fora de contexto? Quem na TDF teria interesse em vigiar uma lista em português, com poucos membros, de uma pequena comunidade, que foi a única no Brasil (um dos mercados de maior interesse, tanto para a TDF, quanto para o AOO) a dar seu apoio explícito ao projeto AOO, e que tem feito muito barulho (marketing) para o AOO por aqui? Quem seria essa pessoa da TDF que saberia o caminho para piorar o clima de tensão já existente entre a TDF e o AOO, utilizando-se de recortes de mensagens fora de contexto, para criar anticlímax internacional, e uma situação delicada entre o AOO e as pessoas que decidiram apoiá-lo no Brasil, às custas de um jovem e entusiasmado desenvolvedor brasileiro? Eu diria que as opções são bem poucas, e todas elas estão ligadas a pessoas que estavam no que a gente acostumou chamar de "o lado negro da força", na época do BrOffice.
 
Também pensei: porque tanto interesse em uma pequena comunidade, com poucos recursos e uma dificuldade tremenda de mobilidade (não conseguimos nem grana pra viajar e participar de eventos)? Eu só vejo um motivo. E podem chamar de teoria conspiratória se quiserem, eu não dou a mínima. Quem, nesse Brasilzão de meus Deus, teria interesse em dificultar o sucesso do AOO por aqui? A resposta mais óbvia, na minha honesta opinião, é a que "segue a trilha do dinheiro". Quem tem interesse, negócios, competência e conhece os meandros da TDF para fazer com que seus negócios prosperem por aqui? A resposta também me parece ser bem restrita.
 
Por último, mas não menos importante, é bom lembrar que a grande maioria de nós veio do LibreOffice e da TDF. Nós conhecemos o que acontece por lá por experiência, não por "achismo". Nós sabemos quem é quem por lá e qual o interesse dessas pessoas. Tem gente muito boa por lá, mas também, tem gente que vai precisar prestar contas com o capeta, mais tarde. Portanto, meus amigos, nós somos perigosos para certas pessoas que, já que não podem controlar o que fazemos, tentam nos desacreditar, pior, usando pessoas de renome nacional como massa de manobra, para não aparecerem em público. Isso porque eles sabem que se aparecerem, as pessoas começarão a ligar os pontos e começarão a ver a imagem completa, ao invés de pequenos detalhes muito parciais e fora de contexto.
 
Kayo, sua atitude me dá orgulho de tê-lo como companheiro nessa comunidade. Você teve a iniciativa de buscar uma informação *pública*, que resolvia de forma simples um bug que existe há sete anos. Michael Meeks, disponibilizou essa informação publicamente, e deve ter seu mérito reconhecido por isso. Não se trata de código (comentar uma linha de programa não é copiar código), mas dar o crédito a quem realmente leu o código, encontrou o problema e publicou a solução é uma atitude nobre e correta. Não sei o que os devs do AOO pensam a respeito, seria bom colocar essa questão lá de forma clara, para que eles não tenham o mesmo entendimento parcial que algumas pessoas tiveram por aqui.
 
E, quanto ao resto de nós, pessoal, vamos deixar bem claro o seguinte: sem nós, o AOO não tem ninguém por aqui, e deixa o maior mercado de ferramentas de escritório em Software Livre do mundo, todinho para a TDF e, em particular, para uma certa empresa privada nacional, que se intitula "associação", e que tem muito interesse em garantir um mercado cativo para o LibreOffice. Valemos mais que ouro em pó pra essa gente, e quem não conseguir nosso apoio, vai tentar a todo custo evitar que o adversário o conquiste. Estamos numa posição muito confortável, porque não temos nenhum interesse comercial, nem político, em ajudar o AOO. Fazemos o que fazemos por diversão. No dia em que a diversão acabar, pulamos fora sem muito esforço, nem muito comprometimento com as consequências. Da mesma forma que aconteceu quando saímos da TDF.
 
Eu enviei minha renovação de membro para a TDF. Mas, sinceramente, estou me lixando se vão aceitar ou não. A tradução dos documentos estagnou por lá depois que eu saí e o Raul começou a participar por aqui. Isso me preocupa porque seria bom ter documentação de qualidade em pt-BR. Mas, tendo de lidar com essas "forças das sombras", que ficam infernizando a vida da gente por aí, fica muito difícil contribuir pra TDF.
 
Um grande abraço a todos.

Enviado por Alexandre Oliva (não verificado) em seg, 05/21/2012 - 22:14

É meu primeiro envolvimento com essa discussão, e estou notando muita tensão no debate AOOxTDF também a nível nacional, mas é importante que essa tensão não contamine questões jurídicas que podem até colocar o projeto e a Fundação Apache em risco. Não escondo que tenho antipatia pelo jeito como IBM e Oracle tomaram as contribuições sob licença copyleft de uma baita comunidade e cooptaram a Fundação Apache para dar legitimidade ao “golpe de estado”, mas isso é conversa pra depois.

Quero antes falar sobre direito autoral, um assunto complicado pacas. Não interessa muito se digitar dois caracteres de comentário constitui ou não uma cópia, porque cópia não é bem o critério do direito autoral. A questão importante é se um juiz ou um júri vai considerar que uma obra é derivativa de outra, a ponto de acionar os requisitos que a GNU GPL e outras licenças copyleft estabelecem para obras derivativas. Isso é uma questão complicadíssima, que poucos advogados se atreveriam a responder categoricamente, porque no fim das contas vai depender de um tribunal. Sem maldade alguma de minha parte, um advogado responsável questionado sobre uma questão como essas provavelmente vai dizer “depende” :-)

A Fundação Apache esclarece http://www.apache.org/foundation/license-faq.html :

Even if you change every single line of the Apache code you're using, the result is still based on the Foundation's licensed code

O mecanismo de derivação que faz com que se exijam permissões dos titulares do original, e portanto sujeição às suas condições, é similar para qualquer obra autoral, livre ou privativa. De fato, mesmo que você remova cada linha do programa original e adicione outras, ainda assim terá uma obra derivada, conforme a lei, a doutrina e a jurisprudência do direito autoral.

Até mesmo olhar para um programa (código fonte), memorizar como ele funciona, e depois escrever algo parecido com o que você memorizou dá boa margem para que o programa seja considerado obra derivada. É por isso mesmo que a IBM (a mesma que conspirou com a Oracle para tirar o copyleft do código contribuído pela comunidade) e a Apple proíbem seus funcionários de sequer olharem para código fonte de certos programas, como o GCC, se pretende que eles trabalhem em outros compiladores que não estejam sob a mesma licença. Tudo isso porque desenvolvedores (como eu) não são advogados para avaliar o *risco* de que um tribunal venha a considerar o resultado uma derivação; para ficar do lado seguro ao invés de voltar para o “depende” default ;-)

Há quem creia que dá pra resolver caso a caso, bastando consultar o autor de um patch e pedindo-lhe permissões adicionais para incluir o código sob licença mais permissiva. Isso pode ser um engano: o patch pode muito bem ser considerado uma obra derivativa do original copyleft, caso em que o (portanto co)autor do patch, por força das condições estabelecidas na licença copyleft, só pode distribuir e licenciar sob os mesmos termos copyleft.

A forma mais simples de evitar eventuais futuros problemas judiciais para a Fundação Apache e seus contribuidores é, lamentavelmente, que os contribuidores do AOO nem olhem para a base de código que evoluiu sob copyleft. A forma mais complicada é seguir os procedimentos de engenharia reversa e redesenvolvimento clean-room, em que uma pessoa estuda o código e documenta o que ele faz, de formas cuidadosas especificamente projetadas para evitar que essa documentação seja considerada uma obra derivada, para que em seguida *outra* pessoa, usando somente essa documentação, implemente o código na outra base. É burocrático, complicado e, para pessoas não treinadas nesse tipo de técnica clean-room, ainda juridicamente arriscado.

Essa é a lamentável consequência da divisão da comunidade que IBM e Oracle engenhosa e ardilosamente introduziram ao alterar as regras de licenciamento do que a comunidade original havia aceito, aproveitando-se da mecânica de operação da Fundação Apache. Nessa altura, o melhor caminho a seguir é o proposto na thread: consultar o restante da comunidade internacional do AOO e, se o assunto não houver sido fechado, ao departamento jurídico da Fundação Apache, sobre medidas que têm sido e devem ser tomadas para evitar que se descubra, daqui a meses ou anos, que a base de código mantida pela Fundação Apache não pode mais ser distribuída sob os termos da Licença Apache, mas sim sob copyleft.

Hmm.. (-: Pensando bem, talvez seja melhor não falar nada e ir em frente até que isso aconteça, pra dar uma lição na IBM e na Oracle. :-) Vai sujar o nome da Fundação Apache, o que seria lamentável, mas quem sabe aí ela estabeleça regras para evitar ser usada novamente da forma que foi.

Agora, voltando à minha antipatia, por mais que possa haver gente de má índole e supostos interesses puramente comerciais ligada à TDF (não duvido, mas vai saber se não estão sendo usados pela IBM e Oracle pra enfraquecer a TDF e fortalecer o AOO permissivo que elas queriam? /conspiracytheory), não entendo como é que alguém pode usar a existência dessas pessoas como razão para pular para o lado de duas empresas que deixaram bem claros seus interesses e sua índole ao (se não bem antes de) aniquilarem o copyleft que protegia de abusos os usuários do OpenOffice.org original e do saudoso BROffice. Vai entender!

/me resmunga alguma coisa sobre frigideira e fogo, e gesticula convidando as pessoas de boa índole a contribuir para o lado copyleft da força, mesmo que isso exija mais um fork. Pelo menos seria um fork com possibilidade de cooperação de duas mãos, ao invés de ficar do lado errado (porque não aceita contribuições do outro) da lamentável mão única que IBM e Oracle criaram.

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Enviado por Paulo em qua, 05/30/2012 - 22:39

Tenha certeza de que levaremos isso bastante em conta. No entanto, ninguém disse que a razão pela qual resolvi ajudar o AOO foi a existência dessas pessoas.
 
O que eu disse é que eu estava contribuindo nas duas comunidades, no entanto, alguém (e eu sei muito bem quem foi) tentou utilizar de meios escusos para forçar uma situação entre esta comunidade e o AOO. Isso tem um efeito degradante no entusiasmo de contribuir com a TDF. Além do mais, com IBM/Oracle ou sem, eu acho que é importante ter mais de um pacote de escritórios de grande porte em código aberto. A variedade de licenças permissivas, na minha opinião, também é benéfica. Portanto, não vejo nenhum pecado mortal em contribuir para o AOO.

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Enviado por faconti em qui, 05/31/2012 - 01:26

Oi Alexandre :)
Outro dia, estava lendo umas coisinhas:

O que penso sobre o Apache OpenOffice.org: Um convite ao trabalho
colaborativo !
http://homembit.com/2011/06/o-que-penso-sobre-o-apache-openofficeorg-um-convite-ao-trabalho-colaborativo.html

Além do excelente texto que o Jomar sempre produz, vi alguns links que
ele cita. Entre eles, achei, do Rob Weir,

de 13/06/2011:
OpenOffice, LibreOffice and the Scarcity Fallacy  de June 13, 2011
http://www.robweir.com/blog/2011/06/openoffice-libreoffice-and-the-scarcity-fallacy.html

que cita esse:
ODF at 5 Years,
http://www.robweir.com/blog/2010/05/odf-5-years.html

Se não conhece, e se interessar, olhe-os, e veja as figuras que ele fez.

Adorei vê-las, especialmente

1 - essa, com a linha de tempo entre os processadores de texto:

Word processor
http://www.robweir.com/blog/wp-content/uploads/2010/05/wp.png

Viu a tal década perdida?

E pq foi perdida?

Pq não havia ideias diferentes, grupos diferentes trabalhando. A MS se firmou como um quase monopólio.

2 - essa, que dá a dimensão que os processadores open source de fato têm:
http://www.robweir.com/blog/images/OO-LO-competition.png

Temos 95% de mercado a conquistar!

E, como ele disse:

vamos acabar com estes disparates, esta falácia da escassez  (de
desenvolvedores).

Vamos parar de brigar por aquela caixinha de 5%. Em vez disso, vamos
olhar para nós como restaurar a escolha e a diversidade que nós tivemos
neste segmento de mercado em 1990, mas fazê-lo melhor.

Temos alguma coisa agora não tínhamos na época, e que é uma norma
internacional para troca de documentos, o ODF. Isso pode e deve ser a
base para a interoperabilidade entre suítes de aplicativos concorrentes.

-
Beijins,
Fa

Enviado por Tércio Martins (não verificado) em seg, 06/04/2012 - 19:16

Não há problema algum em copiar o código criado (ou alterado) no LibreOffice para o AOO. As contribuições antigas estão com a licença LGPLv3+, que a Fundação Apache não aproveita:

http://www.apache.org/legal/resolved.html

Mas as contribuições lançadas após a fundação do projeto estão com as licenças LGPLv3 e MPLv2, e a última é compatível com a Licença Apache v2:

http://www.oss-watch.ac.uk/resources/mpl2.xml#body.1_div.3

No pior dos casos, pode-se obter uma autorização com o Michael Meeks (detentor dos direitos autorais do código). Ele é livre para relicenciar sua contribuição como queira -- e, como a alteração é bastante pequena, creio que não ocorrerá problemas nisso.

Fico feliz pela equipe do AOO se preocupar em reconhecer os esforços de pessoas em outros projetos.

Abraços!

imagem de Paulo

Enviado por Paulo em qui, 06/14/2012 - 09:07

... Não existe código para qual precisamos pedir permissão para copiar. O "código", se é que podemos camar assim, resume-se a "//" que são caracteres utilizados para comentar linhas.
Inicialmente, eu também entendi que ele estava falando em cópia de código, mas depois, percebi que não era nada disso.
A questão não está no código, e sim em dar o crédito a quem pesquisou e encontrou o problema, não na forma dada para a solução do problema.
O processo de resolução de bugs tem duas fases: primeira, encontrar onde, no código, o problema ocorre. Segunda, desenvolver uma solução sem comprometer o resto do código. 
Essa foi a preocupação do Kayo: dar o crédito a quem fez a primeira parte do trabalho, e a mais difícil, já que a segunda parte pode ser feita de inúmeras maneiras diferentes.

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